Sana engole as duas pílulas amarelas com força, dando um longo gole em sua vodka sabor cereja logo em seguida. Ela suspira quando sente a queimação da bebida rasgar sua garganta junto do remédio. Em dez minutos, ela estaria pronta para aguentar o resto daquela festa.
— Não deveria misturar remédio e álcool — a voz ecoa em um sermão.
Os ombros de Sana balançam para cima e para baixo quando uma risada carregada de ironia escapa de seus lábios, ela se vira para trás e encara o rosto harmonioso de Chaeyoung, olhando bem fundo dentro de seus olhos escuros.
— Eu não deveria misturar muitas coisas com álcool, mas continuo fazendo... — Sana diz. Talvez o remédio já tivesse começado a fazer efeito. — E acredite, remédios não estão no topo da lista!
O tom sarcástico e ácido de sua melhor amiga faz Chaeyoung arquear as sobrancelhas em surpresa, ela teve muito de Sana sob o uso daqueles medicamentos, sabia lidar com aquela garota a sua frente perfeitamente, mas naquele momento, por um motivo inexplicável, ela se sente inexperiente.
— Mina me contou o que aconteceu — Chaeyoung murmura, se aproximando mais de sua amiga. — Quer conversar sobre o que aconteceu?
— Garota bocuda do caralho... — Sana revira os olhos. — Não quero falar sobre isso!
Chaeyoung suspira pesadamente. Ela detesta estar entre as duas: sua melhor amiga e sua namorada. Mas ela ocupa aquele papel faz tanto tempo que sabe bem como exercê-lo. É simples. Não toque no assunto com Sana e faça de tudo para desviar dele com Mina. Ela deveria continuar daquela forma, mas Mina está ficando cada vez mais abalada com a situação entre ela e Sana, e Chaeyoung sente que precisa fazer alguma coisa para mudar aquilo.
— Sana, já conversamos sobre isso. Você não pode tratar Mina dessa forma. Eu sei que você tem problemas com a sua mãe, mas a Mina não tem culpa nenhuma nisso!
Sana engole toda o conteúdo de seu copo em um único gole, ela se aproxima de Chaeyoung até que seus rostos estão tão próximos que ela sente o cheiro da bala de mente que a garota estava comendo minutos atrás.
— Verdade, já conversamos sobre isso várias vezes e eu já disse que você não deve se meter nisso! Não é só porque você é namorada dela e minha melhor amiga que pode ficar se metendo em nossas vidas!
Chaeyoung engole em seco. Talvez os remédios já estejam fazendo efeito, por isso Sana está agindo daquela forma agressiva.
— Tudo bem — ela acena com as mãos em rendição. — Não está mais aqui quem falou!
Sana sorri com os lábios fechados. O clima tenso continua entre elas.
— Minha mãe escolheu algumas roupas dela para Tzuyu usar na festa e me pediu para ajudá-la, mas eu não consigo fazer isso sozinha...
— Ok, eu te ajudo! — Sana diz rapidamente. A reação chamaria a atenção de Chaeyoung em algum momento se ela não estivesse mais preocupada com a saúde mental de sua amiga — Você pode arrastar Mina para o seu quarto e me deixar cuidar disso.
Chaeyoung arqueia as sobrancelhas, surpresa.
— Tem certeza?
— Claro — Sana sorri com todos os dentes brancos e brilhantes amostra. — Pode deixar comigo! Você sabe que eu gosto de moda.
— Tudo bem, então, obrigada!
Tzuyu se sente perdida quando um dos funcionários que estava no quintal começa a guiá-la pelos corredores largos da casa. A decoração interna era feita com mais flores, quadros de pinturas renascentistas e vasos de diferentes formas, tamanhos e cores. Eles viram no final de um corredor no segundo andar e finalmente param na frente de uma porta branca.
— Esse é o quarto de hóspedes, senhorita — o funcionário, um homem baixinho cujos cabelos pretos já começavam a se tornar grisalhos, diz assim que abre a porta. — A senhora Hirai deixou algumas opções de roupas para a senhorita escolher uma. Agora, com licença!
O homem quase grisalho se vai rapidamente, desaparecendo com facilidade por entre os corredores que causaram dor de cabeça em Tzuyu. Ele deixa a garota para trás com apenas aquele aviso. Tzuyu suspira pesadamente antes de adentrar o quarto muito bem decorado com paredes verdes musgo e quadros - Tzuyu repara que aquele é o único cômodo da casa que não possui um vaso de aparência duvidosa sobre alguma prateleira.
As roupas que Nayeon separou estão todas sobre a cama: um macacão parecido com o de Momo, só que na cor salmão, um vestido verde menta e um terninho feminino com blazer e calça azul claro, e uma camisa social branca.
— Argh! Fala sério, isso é perda de tempo! — Tzuyu resmunga consigo mesma, irritada.
Ela descarta rapidamente o vestido, mas pensa sobre o macacão por alguns segundos e depois de analisar que deixaria muita pele exposta se escolhesse ele, então ela decide pelo terninho. A calça fica um pouco apertada nas pernas, mas a blusa coube perfeitamente. Tzuyu não coloca o blazer nem para ver se fica bonito nela, negando rapidamente a possibilidade de usar aquele pedaço de pano extra no calor do Brasil.
Tzuyu encara a gravata estendida pela cama ao lado do blazer, era a única peça de sua roupa que estava faltando, ela estica as mãos e segura o tecido, sentindo a maciez em seus dedos. Nunca tinha usado uma gravata antes, nunca nem teve dinheiro ou motivo para comprar uma roupa como aquela. Então, sua ficha cai rapidamente: ela não sabe como amarrar uma gravata.
A irritação toma o corpo de Tzuyu de forma rápida, ela se sente irritada não só com aquela festa idiota, mas também com a situação em que se meteu, por ter que deixar Porto Rico e sua mãe e Marcel para trás por causa de Carlos. Ela explode em um grito esganiçado e doído, e arremessa o pano azul claro e sedoso que estava em suas mãos. Seu peito sobe e desce rapidamente, denunciando sua respiração acelerada, mas Tzuyu perde completamente o ar dos pulmões quando encara a figura parada na soleira de sua porta.
Não precisa de muito para que Tzuyu entenda que a gravata que ela arremessou atingiu em cheio o rosto angelical de Sana. O corpo inteiro de Tzuyu congela e um arrepio cruza sua espinha quando os olhos escuros de Sana encaram os seus.
— Acho que você deveria usar isso envolta do pescoço e não arremessar contra pobres garotas indefesas — a voz suave e melodiosa de Sana preenche todo o quarto e desperta Tzuyu de seu leve torpor.
— Me desculpe — Tzuyu pede, seu rosto corado pela envergonha. — Eu não sabia que você iria invadir meu quarto bem na hora em que resolvi me estressar com este pedaço de pano.
Sana ri e adentra o quarto mesmo que não tenha sido convidada para tal, ela fecha a porta atrás de si, deixando-as isoladas do mundo exterior por alguns momentos.
— Não sabe como amarrar uma gravata, senhorita Chou? — Sana pergunta com os olhos semicerrados e um sorriso ladino que poderia ser considerado mordaz, mas sua voz é suave e sedutora.
Ela não estava… ou estava? Tzuyu engole em seco. O nervosismo deixa suas mãos suadas.
— Não seja boba — ela resmunga, revirando os olhos. — Eu apenas não quero usar gravata! Além disso, está calor demais para usar blazer.
Sana entrega a Tzuyu o melhor de seus sorrisos enquanto caminha em sua direção com a gravata dela nas mãos, parecendo mais como uma felina pronta para dar o bote em sua mais nova presa. Bem, essa analogia não está totalmente errada.
Ela se aproxima de Tzuyu até seus rostos estarem a um palmo de distância. Suas mãos alcançam os ombros largos da garota, sentindo o tecido sedoso de sua camisa social branca, então, migram para seu pescoço fino e começam a trabalhar rapidamente.
— É uma pena… — Sana sussurra, concentrada em seu trabalho com o nó da gravata. Seu hálito sabor menta toca a face de Tzuyu, graças a pouca distância entre seus rostos, e faz bochechas dela corarem ainda mais. — Porque você fica bem bonita quando está usando gravata!
Talvez fosse o efeito do remédio. Talvez fosse o efeito de Tzuyu. Sana nunca saberia dizer com clareza e nem se importava com isso o suficiente para tentar descobrir o que motivou suas ações e palavras naquele momento. Depois de dar um nó perfeito, com a pressão certa no pescoço de Tzuyu, ela se afasta com um movimento rápido e gracioso, deixando a mais alta sentindo falta do calor que seu corpo emana e do seu cheiro.
— Nayeon pediu para que eu lhe avisasse que os convidados estão chegando! — Sana comenta como se não tivesse acabado de flertar descaradamente com Tzuyu enquanto amarrava sua gravata.
Tzuyu pisca os olhos algumas vezes como se isso fizesse seu cérebro funcionar da forma correta.
— Eu… — ela gagueja, para completar seu papel de trouxa. Com um balançar de cabeça, ela solta um pigarro que faz sua voz voltar a aparecer. — Já estou descendo.
— Deixe alguns botões da camisa abertos e dobre as mangas se não quiser usar a gravata! — Sana comenta, já de costas e com a mão na maçaneta da porta, pronta para ir embora. — Você fica bonita de qualquer forma!
Comentários
Postar um comentário