Capítulo 4 - Uma estranha no paraíso
Tzuyu fecha os olhos com força, tentando não chorar depois de encerrar a conversa com seu melhor amigo. A saudade de casa aperta tanto seu peito que parece que ela está prestes a ter um infarto. Ela caminha até a areia branca da praia e deixa um pequeno sorriso tomar conta de seus lábios quando sente cócegas em seus pés, um suspiro aliviado lhe escapa quando a água gelada daquela praia brasileira toca sua pele.
Tzuyu está tão distraída que não percebe quando alguém se aproxima de suas costas, apenas sente o cheiro de maresia se misturar a um cheiro específico de lírios.
— Quem é você? — A voz, suave como a melodia de Espacio En Tu Corazón de Enrique Iglesias, soa através do vento e desperta Tzuyu de seus pensamentos tristonhos.
Tzuyu se vira rapidamente para trás e seus olhos arregalados pelo susto dobram de tamanho ao encontrar a garota que ela confundiu com um anjo bem ali, apenas alguns passos de distância.
— Quem você quiser que eu seja… — Ela diz, sem pensar em suas palavras, ainda fora de órbita com tamanha beleza em sua frente.
A risada da garota anjo soa fraca, mas é tão suave e melodiosa quanto sua voz. Ela exibe seus dentes perfeitamente brancos em um sorriso antes de abaixar levemente a cabeça, encarando seus pés sobre a areia branca por alguns segundos.
— Tudo bem — a garota diz, ainda sorrindo.
Tzuyu se sente uma idiota, afinal, quem falaria daquela forma com uma garota tão bonita? Mas ela tinha feito o anjo sorrir e aquilo deveria valer de alguma coisa.
— Pode me responder com sinceridade se eu perguntar mais uma vez? — A garota pergunta, se aproximando alguns passos. E Tzuyu apenas possui forças para acenar com a cabeça em confirmação. — Certo… Quem é você?
— Chou Tzuyu!
As sobrancelhas perfeitamente desenhadas do anjo se levantam em um breve arquear.
— Muito bem, Chou Tzuyu — ela elogia como se falasse com uma criança que fez seu dever de casa corretamente, mas Tzuyu nem ao menos liga para isso. — O que faz aqui?
Em outras circunstâncias, Tzuyu nunca deixaria alguém lhe fazer um interrogatório daquela maneira. Mas a garota com face de anjo poderia deixá-la nua naquela praia que Tzuyu não ligaria.
— Depende, você quer a resposta sincera?
— Sou adepta a honestidade, senhorita Chou — ela diz, e sua voz polida e a forma de chamá-la faz Tzuyu se lembrar de Jihyo por alguns segundos. — Então, por favor, me diga a verdade!
— Enfrentei um traficante que dominava as terras do meu bairro em Porto Rico e agora ele quer minha cabeça em uma bandeja de prata, fui parar na cadeia por um engano e uma mulher de terno preto e agora estou aqui!
Através dos olhos escuros de Sana, Tzuyu pode ver como sua mente trabalha freneticamente para absorver todas aquelas informações. O que a garota mais nova não sabe é que Sana está ligando os pontos mentalmente, desvendando uma parte da história que Tzuyu não tem acesso.
Poucos segundos depois, Sana está novamente exibindo seus dentes brancos para Tzuyu quando um sorriso largo toma conta de seus lábios rosados.
— Então você é a sobrinha que veio passar um tempo com a família Hirai!
Tzuyu suspira pesadamente. Chutando um pouco de areia com os pés, ela acena com a cabeça. Talvez seja essa a história que ela terá que contar para as pessoas ao invés da verdade.
— Senhorita Chou! — A voz polida de Jihyo faz com que um arrepio passe pelo corpo de Tzuyu. A pose relaxada de Sana muda completamente com a chegada da mulher também. — Disse para não sair do lugar.
— Desculpe, apenas queria um pouco de privacidade para falar com a minha mãe.
— Certo… — A mulher acena com a cabeça. — Vejo que já conheceu Sana.
Tzuyu percorre o olhar entre Jihyo e Sana, sentindo todo o clima estranho que emana das duas. Ela acena com a cabeça, mesmo que não soubesse o nome da outra garota até aquele momento.
— Estávamos falando sobre como Porto Rico tem belas praias! — Sana mente com um sorriso forçado nos lábios. Tzuyu a encara com o cenho franzido e basta apenas um olhar para que ela entenda que deve entrar naquela mentira também.
— Sim, eu estava comentando com Sana sobre as belezas de Porto Rico.
Jihyo dá a Tzuyu um olhar que atravessa sua alma, mas acena com a cabeça.
— Certo, que bom está fazendo amizade, senhorita Chou, mas agora precisamos ir. A senhora Hirai está esperando para conhecê-la!
Tzuyu respira fundo. Finalmente ela conheceria a mulher responsável pela ordem de tirá-la de Porto Rico. Estava na hora. Ela se vira para Sana e se despede com um aceno de cabeça, recebendo um sorriso em troca.
Jihyo guia o caminho de volta até a casa, conduzindo-a por entre uma portinha de madeira escura na lateral. Elas caminham pela grama bem aparada até adentrarem um quintal espaçoso, decorado com flores brancas e arranjos bonitos.
Funcionários trajados em um uniforme branco passam por todos os lados, carregando vasos e pratos com petiscos de uma ponta a outra do quintal. Jihyo aponta para um ponto mais a frente e Tzuyu encontra uma mulher vestida com um macacão azul royal e saltos altos, seus braços são fortes e seu cabelo é liso e preto. Elas se aproximam da mulher e Tzuyu percebe que ela está dando ordens a alguém pelo celular em um tom de voz firme.
— Senhora Hirai — Jihyo chama em um tom baixo. Tzuyu engole em seco ao perceber que aquele não era um bom momento para conhecer a mulher. — A senhorita Chou está aqui!
A mulher desliga a chamada rapidamente e se vira para trás, com seus olhos ela analisa a garota a sua frente de cima a baixo. Uma de suas sobrancelhas se arqueiam para cima, mas ela estende a mão na direção de Tzuyu.
— É bom prazer conhecê-la, senhorita Chou — ela diz com a mesma voz firme que dava esporro em algum funcionário pelo celular. Tzuyu veste sua pose de durona e aperta a mão da mulher com toda a força que possui em seus finos braços. — Sinto muito pela ausência da minha esposa aqui, mas ela teve um imprevisto com nossa filha. Mas, acredite, ela está ansiosa para encontrá-la!
— Esposa? — Tzuyu franze o cenho, as palavras escapando de sua boca sem ela perceber.
A senhora Hirai arqueia as sobrancelhas com o maxilar travado.
— Algum problema?
— Nenhum senhora — a garota nega rapidamente.— Eu também gosto de mulheres. Sou lésbica. Muito lésbica!
Jihyo solta um pigarro para silenciar a frase nervosa de Tzuyu. A senhora Hirai, por outro lado, sorri.
— Bom saber que não possui preconceito, senhorita Chou.
Tzuyu acena com a cabeça, suas mãos estão suando tanto que parece que ela está no mar e não na terra.
— Oh, meu Deus! Tzuyu? — A voz alta de uma mulher mais velha interrompe toda a conversa. Quando elas se viram para ver quem é, uma mulher loira usando um vestido branco florido está se aproximando delas com os braços abertos. — Oh, querida, você cresceu tanto!
A mulher desconhecida abraça Tzuyu com tanta força que ela sente seu corpo doendo, mas ela não mexe um músculo sequer. Ela não está entendendo nada, é claro, mas aquela mulher parece ser a única pessoa ali que já a conhece.
— Quem… quem é a senhora?
Quando o abraço se encerra, Tzuyu percebe que há uma garota baixinha ao lado da mulher que a abraçou com tanto desespero.
— Oh, céus, é claro que você não se lembra de mim. Sinto muito, querida! Eu me chamo Nayeon, sou meia irmã da sua mãe.
Tzuyu arregala os olhos, dando alguns passos para trás. Aquela mulher bonita e com cara de rica é sua tia? Como sua mãe não tinha contado aquilo para ela? Por que aquela mulher nunca tinha aparecido em sua vida? Ela tinha tantas perguntas sem respostas - e algo lhe dizia que ela não as teria tão cedo.
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